quarta-feira, outubro 12

Politicamente correcto

Desde a altura em que a parede foi violentamente contra o meu pé, muito aconteceu... Criei uma personagem, o Valdemiro, que carinhosamente apelido de meu preto obeso. Ocupa a cama toda, queixa-se a toda a hora e está sempre comigo.

E tudo isto me fez lembrar termos. Termos que empregamos para classificar, diferenciar, categorizar pessoas, geralmente pessoas pertencentes a uma minoria. Distinguir, neste contexto, não me incomoda, porque não está associado a preconceito; porque à diferença não está associado um valor de superioridade ou inferioridade.


Desde pequena fui habituada a não dizer "preto", e sim "de cor"; depois cheguei à conclusão que cor todos nós temos e passei a dizer "negro" (entretanto encontrei quem me diga que o termo "negro" é discriminatório e "preto" não. Não liguei, sinceramente... acho que fizeram confusão com o inglês "nigger") . Sempre torci o nariz à palavra "preto", porque a ouvia da boca de pessoas racistas. Geralmente vinham das antigas colónias, traumatizadas pela guerra; também o oiço de uma habitante da Amadora(não é a Sónia!). E por mais que converse com ela, não a consigo fazer ver que onde ela vive poderão haver marginais daquela cor, mas na minha zona muitos são brancos, por exemplo. Que fui assaltada três vezes, por pessoas de diferentes etnias: caucasiana, cigana e negra... Que encontrei estagiários e profissionais negros que nada têm de criminoso. Eu venho de uma família de emigrantes... e sei que a emigração e marginalidade não andam de mãos dadas. Não posso apagar memórias, nem reconstruir mentalidades de outras pessoas com vivências e crenças diferentes das minhas... por ora, só valer-me do facto de vivermos numa sociedade sujeita a uma Constituição que estipula deveres e consagra direitos individuais. Já que não há aceitação, haja respeito e tolerância.

9 comentários:

Pequenos Nadas disse...

gostei muito de ler esta tua reflexão...Tás lá é isso mesmo. Não temos de ter medo em dizer preto...

sapatilha rota disse...

Muito bom dona Mistinguette *clap, clap*

Anónimo disse...

Já diz a minha prima de Angola... "preto é preto"

Pequenos Nadas disse...

só acrescentar uma coisinha, tolerância é sempre uma palavra que me trás arrepios em várias situações. Tolerância pressupõe uma relação de desigualdade, de um lado superior aquele que tolera o outro o transguessor o incorrecto o outro lado inferior...

Anónimo disse...

Actualmente digo preto, mas a muito custo... Isto devido a um episódio de quando era criança, que não vale a pena escrever aqui.

Para mim a palavra nunca teve qualquer conotação negativa, mas parece que para os outros tinha, e lá tive de arranjar substitutos, sem nunca saber ao certo que palavra usar!

Enfim... Gostei do textinho :)

Anónimo disse...

Ola xana, é a mana! Cresci exactamente no mm quadro educativo que tui, e, agradeco antes de tudo a mamana que fez questao de nunca tratar o proximo como inferior, e se muitos fizessem o mesmo,esse pequeno gesto mudaria MUITA coisa,bale?
Senao, por muito que custe, tenho de admitir, que o preto rouba,sim, tou na venda e rara é a vez que nao seja, e dai todos os que tao nesse trabalho sabem bem isso e consequentemente tem o reflexo de vigia los numa loja...
E isso deve se a muita coisa, as pessoas nao sao assim porque sao mas, mas algo os guiou a certos comportamentos, e a violencia que eles tem de lutar dia apos dia, a vida lhes diz "es a merda da sociedade", e nao sequer direito de responder a boca deles é abafada

Anónimo disse...

por akeles k axam k o suor dfos pretos nao significa nada...ella jinhos

Anónimo disse...

Clap Clap Clap
Concordo com o teu post...
Mas, também digo pretos! Eles preferem também!

Anónimo disse...

"On peut rire de tout, mais pas avec n'importe qui." disse o humorista Coluche quando lhe preguntaram se era possível rir do holocausto ! Mistinguett, tu tens identidades múltiplas (como eu também e muita gente deste pais) ! l'altérité a toujours posé problème. Em 2000 e qualquer coisa, o genoma humano ficou descodificado e ficamos a saber que um grão de arroz tem mais genes do que nós, que geneticamente, um preto/negro é mais próximo dum europeu do que um asiatico. Tudo isto(raças, etnias etc...) são conceitos antiquados. Só existe uma na terra e mando-te um beijinho pela pessoa tu és.
N.B. : je ne te connais pas mais tu gagnes à l'être. Kisses, li todo teu blog